Por: Softonic.com.br
Antes de decidir deixar nossa vida nas mãos de uma única companhia, é bom colocar na balança suas virtudes e seus defeitos.
Pacotes do tipo “tudo incluído” transformaram-se em modelo padrão no mercado de internet. Importantes companhias criaram ecossistemas que contam com hardware, software e serviços que satisfazem todas as necessidades dos usuários. Essas ofertas crescem cada vez mais, inclusive em ambientes inéditos até o momento, tais como casas, eletrodomésticos e carros.
Os protagonistas desta tendência são o Google, a Apple e a Microsoft. Cada um deles criou um universo de serviços que abarcam todos os âmbitos da vida e do qual não é preciso sair em nenhum momento. Tudo funciona em harmonia como se fosse uma engrenagem bem calibrada.
No entanto, este cenário tem vantagens e desvantagens. Antes de confiar toda a nossa vida digital a apenas uma companhia, é melhor conhecer as consequências e possíveis contraindicações desse feito, como indica a revista digital The Verge neste artigo.
Mas comecemos pelas indiscutíveis vantagens que oferecem.
Tenho tudo e tudo funciona
Um ecossistema pode ser definido como um conjunto de aplicativos e serviços intimamente conectados entre si, que oferecem todas as ferramentas necessárias para satisfazer as necessidades digitais dos usuários.
O Google, por exemplo, conta com um sistema operacional para smartphones (Android), outro para computadores (Chrome OS) e uma série de serviços que englobam e-mail, armazenamento online, rede social , blogs, aplicativos de produtividade, gestão de fotos, chat e mapas… A lista é quase infinita.
Com o mesmo nome de usuário você pode acessar todos os serviços disponíveis. É possível publicar no Google+ o resultado de uma busca no Google Maps com poucos cliques, ou mesmo tocar um botão e ler notícias sobre um lugar que você acaba de achar com o buscador.
Google controla tudo
Claro, um fator-chave dos ecossistemas é a sincronização. Por exemplo, se você adicionar um contato à agenda do PC, ele também aparecerá na agenda do telefone. Ou se fizer uma foto com seu smartphone, também poderá vê-la no desktop alguns segundos depois.
Em suma, um ecossistema torna a vida mais fácil graças a serviços que, de forma mais ou menos automática, relacionam todos os componentes de sua vida tecnológica, facilitando seu funcionamento e sua conectividade.
Prisioneiro na sua própria casa
Outro ponto de vista para julgar um ecossistema é menos nobre: a jaula de ouro.
Estes universos multicoloridos conhecidos como “ecossistemas” estendem o tapete vermelho para recebê-lo e convencê-lo de que seja um de seus cidadãos, facilitando a mudança entre seu velho e tedioso país digital até o fantástico reino de 64 bits e milhões de cores.
Mas e se você quiser voltar atrás? Desta vez, usaremos como exemplo o ecossistema da Apple. Os serviços de sincronização entre dispositivos e de cópia de segurança do iCloud são muito úteis e fáceis de usar, considerando-se que você não precisa fazer nenhum esforço.
Porém, se decidir abandonar a companhia de Cupertino e passar do iPhone para o Android ou do Mac para o PC ou Linux, levar todas as suas informações digitais com você é complicado. Dá para transferir seus dados e cópias de segurança de uma plataforma à outra? E as fotos do Photo Streaming? É possível mover os documentos do iWork salvos no iCloud para o Google Drive?
As respostas a estas perguntas são “nem” ou “não”. Quer dizer, você pode fazê-lo, mas o processo costuma ser complicado e impreciso. Isso se deve ao fato de que, por sua própria natureza, nenhum ecossistema deseja perder seus usuários, dificultando ao máximo a saída para desestimular os desertores.Mac and ball small
Um pequeno exemplo: transferir seus SMSs e contatos do iPhone para o Android não é um processo excessivamente complexo, mas sim é suficiente para desanimar um novato.
O mesmo acontece com o Photo Stream da Apple: teoricamente, depois de passar do iPhone para o Android, existe uma forma de continuar usando o serviço de sincronização de fotos, mas não é simples. Explicaremos esta maneira em um artigo que será publicado em algumas semanas.
Moral da história: se você cair totalmente nos braços de um ecossistema, mudar de ideia pode gerar dores de cabeça no futuro.
O essencial é (quase) invisível aos olhos
Em geral, os usuários não são plenamente conscientes de todos os mecanismos que regulam um ecossistema. Os serviços grátis, na verdade, têm um preço especial. Com frequência, este aparece nas condições de uso dos serviços – documentos longos, chatos e difíceis de entender, mas que estão cheios de informações fundamentais.
Apesar das discussões recorrentes sobre a intromissão das companhias na privacidade das pessoas, a maioria utiliza serviços grátis sem questionar. Mas, como dizem, “quando algo é grátis, o produto é você”, os bens mais buscados nesta fase da história digital do Ocidente são os dados dos usuários.
Ao usar um serviço inocente como, por exemplo, o Google Maps, nem sempre é fácil estar consciente de tudo o que a companhia sabe sobre você. E aqui é justamente onde entra o ecossistema.
Se o Google pode ver (porque você permite que o faça) que sua agenda tem os números telefônicos de quatro restaurantes árabes; se também determina, por meio de suas publicações, do GPS e do serviço de mapas (tudo o que oferece gratuitamente), que você passa todas as noites em um certo lugar que provavelmente seja a sua casa; será muito fácil para a empresa “vender” seu correio eletrônico (outro serviço grátis) a uma cadeia de restaurantes de comida síria. Esta sabe o quanto é provável que seu e-mail marketing faça efeito, garantindo o investimento com uma relação custo/benefício extremamente favorável. Além disso, o Google recebe uma verba bastante atraente graças a você.
É um exemplo insignificante que nos faz ter uma ideia de como funcionam os mecanismos do sistema. Conhecê-los ajudará você a ser mais consciente das consequências de utilizar certos serviços e a tomar uma decisão com mais liberdade.
Escolher conscientemente
Devemos ser claros: confiar totalmente em um ecossistema é uma das opções. Também existem serviços que não estão incluídos entre os anteriores e que são mais universais, o que faz com que não apresentem os problemas mencionados.
Se deseja publicar automaticamente na nuvem as fotos que faz com o celular, em vez de usar o serviço iCloud ou o Google Drive, poderia usar o Dropbox. É um programa multiplataforma que, no caso de você decidir “mudar de lado”, não exigirá nenhum tipo de migração.
Este tipo de opções pode resultar, em certos casos, em um mínimo de esforço extra, já que um dos pontos-chave dos ecossistemas é a automatização – o que nos acostumou a ser muito preguiçosos. Mas fazê-lo poderia valer a pena.
O mais importante é escolher com consciência, como se você estivesse elegendo uma companhia para o seguro do carro ou uma casa para viver com a família.